Escola de Música da Sé de Évora
Desde muito cedo na Europa se inicia a associação entre música e liturgia. A  Schola Cantorum  sob a égide do papa Gregório Magno (séc.VI), inicia o ensino sistemático da música e realiza os primeiros registos (notação musical).

Em Évora, a primeira referência ao canto na Sé é feita por um documento de 1200 d.c.. Este institui formalmente o Cabido da Sé e menciona um membro deste órgão que tem a função de cantor. No entanto, a escola que agora nos ocupa, muito mais tarde dará os primeiros passos.

Em 1525, o Cardeal infante  D. Afonso (filho de D. Manuel I) toma posse efectiva do Bispado de Évora. Sabe-se que dispunha de uma capela privativa composta por cantores. Entre eles, e assumindo a sua direcção, estava Pedro do Porto ou Pedro Escobar como também era conhecido Tratava-se de um músico exímio que havia estado ao serviço da capela da Rainha de Castela e da Sé de Valência. No entanto, a degradação a que havia chegado no fim da sua vida, torna-o inapto para desempenhar as funções de mestre de capela que lhe haviam sido cometidas.

Por isso, é contratado o castelhano Mateus d`Aranda que em 1528 substitui o seu antecessor. Depara-se, no entanto, com dificuldades. O corpo discente (composto por 14 capelães-cantores e 4 moços do coro) é insuficiente e, por vezes, está indisponível para frequentar as sua lições. Por esta razão, em 1528, a pedido dele foi emitido um alvará destinado ao Cabido da Sé que abre as portas à criação de uma escola de música. Determina esse diploma que, entre outras regras, o mestre de capela escolha 4 moços em função das suas qualidades vocais para acompanharem a missa e os outros serviços litúrgicos. Estes moços receberiam alojamento, roupa e alimentação por parte do cabido.

O ano de 1540, é marcado pela a criação do Arcebispado de Évora pela Bula Gratiae Divinum Praemium e a nomeação do Cardeal D. Henrique como arcebispo, recebendo a escola  um novo impulso. Em 1552 por iniciativa deste é criado o Colégio do Moços do coro, instituição que funcionava em regime de internato, permitindo uma  melhor da aprendizagem da música.

Em 1565 é criado o Regimento da Capela da Sé, documento jurídico que regula a actividade interna daquele colégio.

O séc.XVI é o período dourado da Escola da Sé. Inúmeros compositores aí formados  se destacam pelo  elevado valor das suas obras. Entre eles podem citar-se, Frei Manuel Cardoso, Filipe de Magalhães ou Duarte Lobo.

No séc.XVII, ainda que o Reino vivesse sob o domínio Filipino a Escola insiste em afirmar-se como local privilegiado de ensino da música. Novos compositores dela brotam, como Lopes Morago, Estêvão de Brito, e mais tarde Francisco Martins e Diogo Dias Melgás.

Entrados no séc.XVIII importantes factos ocorrem. Por um lado, a entrada em funcionamento de um novo edifício para acolher o colégio e que se situa em anexo à Sé. Por outro lado, D.João V fascinado com o movimento barroco, inicia aquilo que se pode designar de importação cultural (a contratação de Domenico Scarlatti é disso paradigmática).

Destes eventos um deles é determinante no processo de decadência que a Escola começa a enfrentar - a extinção da Universidade de Évora que vem na sequência do ataque pombalino à Companhia de Jesus. Sem uma instituição que permita a continuação dos estudos médios e superiores, o ingresso no colégio mostra-se menos cativante.

O séc.XIX desfere o golpe de misericórdia numa instituição agonizante. O ano de 1802 ainda é importante na medida em que permitiu que a memória da Escola se preservasse. D.Frei Manuel de Cenáculo Vilas Boas é eleito arcebispo de Évora. Este período coincide com as invasões napoleónicas em que os actos de devastação contra pessoas e bens atingem em grande medida a Igreja. Parte do fundo que sustentava o Colégio é saqueado. O arcebispo ajuda ao restabelecimento do equilíbrio financeiro do mesmo.

Destaque-se a acção deste membro do clero que utiliza o espaço deixado pelos moços do coro (que ocuparam as novas instalações) para criar a actual Biblioteca Pública.

Mais tarde, as guerras liberais conduzem ao exílio forçado do Arcebispo de Évora e ao desmantelamento do Colégio que fecha as suas portas em 1835.